Quinta-feira, 29 de Maio de 2008
Recebida por e-mail
Quarta-feira, 28 de Maio de 2008
Abutres
No contexto das notícias catastrofistas, quase “fim dos tempos”, sobre o aumento do custo de vários bens alimentares, a campanha do Banco Alimentar contra a fome deste fim de semana teve especial relevo nas notícias e tudo indica que foi muito bem sucedida. Quase duas dezenas de milhar de voluntários e, presumo, centenas de milhar de contribuintes (no sentido real do termo), deram forma a uma enorme iniciativa de apoio a quem passa necessidade. O que acho realmente extraordinário é o facto da maior parte destas pessoas não questionar o facto de apesar de quase metade de tudo o que produzem ser consumido pelo estado, alegadamente “social”, continuem a persistir situações de carência que apenas são resolvidas por iniciativas fora desse estado. Se o questionam, o facto é que não agem em consonância.
As décadas vão passando, o peso do estado vai aumentado e vão subindo de tom as queixas sobre aumentos das diferenças entre ricos e pobres, ou da dimensão das “bolsas” de pobreza. A conclusão, evidente, de que algo está errado no modelo do estado social nunca é atingida. As receitas passam sempre por mais intervenção, mais estado e menos escolha individual. Note-se que o problema é rigorosamente o mesmo nas outras funções, supostamente nucleares, do estado. Quanto mais cresce a carga fiscal, piores os serviços de saúde prestados, com enormes listas de espera e racionamento; menos formados são os alunos e mais desacreditada fica a escola pública; mais desacreditadas ficam a justiça e a segurança pública. As boas intenções, que proverbialmente vão pavimentando a estrada daqui ao inferno, essas nunca são questionadas.
A razão para esta passividade é filosófica. O humanitarismo, a ideia de que o padrão moral é o nobre sacrifício e de que a mais alta virtude que alguém pode almejar é viver para ajudar os outros são responsáveis por isto. Como escreveu Isabel Paterson, quando esta ideia se junta ao internacionalismo e à vontade de “ajudar a humanidade”, estão reunidas as condições para a catástrofe. Condicionadas pelo padrão moral altruista, as pessoas são incapazes de perceber as implicações efectivas dessa filosofia de subordinação da produção à ajuda a terceiros (quando devia ser justamente ao contrário) ou nem sequer de julgar os “grandes humanitários” pelos resultados e não pelas intenções (algo que parece óbvio).
Desta forma, as pessoas acabam por não ver o verdadeiro papel dos estadistas responsáveis pela situação. Não vêm que estes, ao defender as suas boas intenções para o estado “social”, acabam por comportar-se como abutres que se alimentam (espiritualmente, quando não literalmente) da miséria alheia.
Roubado à crónica do migas
Estou de partida para Angola... se der vou colocando alguns comentários por cá, se não der dentro de quinze dias estou de volta!
Domingo, 25 de Maio de 2008
Quinta-feira, 22 de Maio de 2008
Uma mulher escreveu para o site pedindo umas dicas sobre como arranjar marido rico. Só isso já é engraçado, mas o melhor da história é que um homem deu a ela uma resposta bemfundamentada.
Dela:
"Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem
articulada e tenho classe.
Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste site? Ou esposas de gente que ganhe isso e possam me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso, e 250 mil não vão me fazer morar em Central Park West.
Conheço uma mulher da minha aula de ioga que casou com um banqueiro e vive em Tribeca, e ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez de certo que eu não fiz? Como eu chego ao nível dela?"
Rafaela S.
Dele:
"Li a sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, não estou gastando o seu tempo, pois ganho mais de 500 mil por ano. Posto isto, considero os factos da seguinte forma: o que você oferece, visto da perspectiva de um homem como procura, é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as virgulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples. Você entra com a sua beleza física e eu entro com o dinheiro.
Proposta clara, sem entrelinhas.
Mas tem um problema. Com toda a certeza, a sua beleza vai decair e um dia acabar, e o mais provável é que o meu dinheiro continue crescendo. Assim, em termos económicos, você é um activo sofrendo depreciação, e eu sou um activo rendendo dividendos. Você não somente sofre depreciação como essa depreciação é progressiva, sempre aumenta!Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5/10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano, e de repente, se você se comparar com uma foto de hoje, verá que já estará um caco. Isto é, você está hoje em 'alta', na época ideal de ser vendida, não de ser comprada.
Usando o linguajar de Wall Street, quem a tem hoje deve tê-la em 'trading position' (posição para comercializar), e não de 'buy and hold' (compre e retenha), que é o que para quê você se oferece...
Portanto, ainda em termos comerciais, casamento (que é um 'buy and hold') consigo não é um bom negócio a médio/longo prazo, mas alugá-la pode ser, e, em termos sociais, um negócio razoável que podemos cogitar é namorar.
Cogitar...
Já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' você é, eu, provável futuro locatário dessa 'máquina', quero o que é de praxe: fazer um 'test drive'...
Posso marcar?"
Li, há dias, que um banqueiro terá dito, em resposta às preocupações dos ministros europeus quanto aos rendimentos faraónicos de alguns dirigentes empresariais, que aquelas preocupações seriam manifestações de política rasteira.
Li, hoje, que o Presidente da Associação Nacional de Municípios entende que é no custo original da água ou na redução dos impostos que se deve procurar a solução para não aumentar o custo desta para os consumidores e que estará fora causa a supressão da taxa de disponibilidade que estará para ser criada pelas autarquias.
Li, também hoje, que o Presidente da Galp sustenta que, para baixar os preços dos combustíveis a única solução é reduzir os impostos.
Vejamos, portanto, alguns factos, para fundamentar duas preguntas.
1.º Facto
A Galp Energia registou um lucro no primeiro trimestre deste ano de 109 milhões de euros, ou seja, 1,2 milhões de euros por dia.
2.º Facto
A APETRO – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, requereu ao ex-Conselho da Concorrência a avaliação prévia de um Acordo celebrado, em 25/12/2000, com todas as suas associadas – AGIP Portugal – Combustíveis, SA; BP Portuguesa, SA; CEPSA Portuguesa Petróleos, SA; ESSO Portuguesa, Lda; Petróleos de Portugal, PETROGAL, SA; REPSOL Portugal, Petróleos e Derivados, Ldaª; SHELL Portuguesa, Lda e TOTAL Fina Elf Portugal –Companhia de Petróleos, SA, […] acordo esse que tinha por objecto […] a recolha e agregação periódica para fins estatísticos, por parte da APETRO, de elementos fornecidos pelas suas Associadas respeitantes aos respectivos volumes de vendas mensais de cerca de 20 produtos petrolíferos por elas comercializados.
A AdC decide, […] atendendo […] ao facto de as Associadas da APETRO representarem cerca de 95% do mercado, que […] o Acordo de Consolidação de Informação Estatística objecto da deliberação da APETRO é ilegal.
3.º Facto
O presidente da Galp, que controla a maior rede de retalho de combustíveis com cerca de 800 estações em Portugal, que a empresa que dirige não pode fazer nada, afirmando que “a única alternativa para baixar os preços dos combustíveis é reduzir o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP). 'Não há nada que a Galp possa fazer', garantiu o gestor, lembrando que a petrolífera está exposta às cotações internacionais do petróleo e a uma carga fiscal 'gigantesca'”.
4.º Facto
Os indicadores publicados pela AdC desmentem que a explicação dos elevados custos dos combustíveis esteja na carga fiscal, como se pode ver pelos gráficos publicados, que se referem aos preços médios de venda ao público (PMVP) antes de impostos.
5.º Facto
Os dados publicados pela AdC sugerem que a variação dos preços de venda ao público é tanto menor quanto menor é a concorrência – a variação é mínima nas auto-estradas – e indiciam que também não será nos custos do petróleo nos mercados internacionais que se encontrarão todas as explicações para a anomalia ilustrada no gráfico seguinte: nos últimos anos, os preços médios de venda ao público só muito raramente foram inferiores à média da UE.
6.º Facto
Também não é nos salários ou nos custos horários do trabalho que se poderá encontrar a explicação para a afirmação do Presidente da Galp: os custos do trabalho em Portugal influenciam para baixo da média comunitária os custos de venda ao público dos combustíveis.
Fonte: Eurostat
7.º Facto
Apesar dos inegáveis progressos realizados, Portugal continua a ter importantes necessidades sociais por satisfazer, entre as quais avulta, em minha opinião, a necessidade de aumentar os níveis de protecção social, o que, evidentemente, exige maiores receitas fiscais e melhor uso dos recursos disponíveis.
Por estes motivos, duas perguntas.
Acham mesmo que a generalidade dos que seguem os debates no espaço público sobre assuntos em que não são especialistas - como é o meu caso quanto à gestão bancária, à política municipal e à política energética - são incapazes de raciocinar e de se informar sobre os assuntos que os interessam?
Como é que responsáveis empresariais e autarcas com altos níveis de responsabilidade têm o despudor de continuar a sustentar que se devem reduzir os impostos e a considerar que os seus rendimentos e os das empresas ou organizações que dirigem são intocáveis?
Nenhuma das respostas que me ocorrem seriam lisonjeiras para os personajens em questão.
Terça-feira, 20 de Maio de 2008
Segunda-feira, 19 de Maio de 2008
Trabalhadores da Galp pedem explicações à administração sobre o aumento dos combustíveis
Os trabalhadores da Galp Energia querem explicações da administração da petrolífera sobre o aumento dos combustíveis e acusam o Governo de irresponsável.
Continuar a ler no Jornal de Negócios
Domingo, 18 de Maio de 2008
Muito bom o artigo do Miguel Frasquilho no Ipsisverbis sobre a fiscalidade, embora discorde dele quando diz que o sistema fiscal que temos fazia sentido em meados dos anos 80 quando foi introduzido, quando na verdade NUNCA fez sentido...
Sexta-feira, 16 de Maio de 2008
"As pessoas têm uma ligação afectiva às palavras, que é tão mais forte quão mais forte é a sua ligação à língua escrita. Não é por acaso que o mais activo detractor do Acordo seja um poeta, Vasco Graça Moura, que tem sido galardoado com vários prémios pela excelência das suas traduções. Os políticos não têm legitimidade para quebrar estes laços afectivos. Além de ser factor de estagnação e de escolhas piores do que aquelas que emergem do uso livre da língua, a legislação da ortografia é antes de tudo uma intromissão ilegítima na liberdade de quem usa a língua e cuja vontade devia ser respeitada, ao invés da vontade da meia dúzia de voluntaristas que decidiu por nós, sem nos consultar. Esta é a razão principal, a liberdade. Deixei-a para o fim porque infelizmente é um argumento que não convence ninguém hoje em dia neste país de súbditos. Um país onde uma das expressões para bom Português é "Português de lei"…"
No de parte incerta via blasfémias